Provérbios Provados noutras casas:

sábado, 11 de setembro de 2010

Provérbio faminto (2 em 1)

A Maria da Aparecida vivia obcecada pela comida. Acordava a pensar no pequeno-almoço, e só depois de com uma lauta ceia saciada é que se achava deitada.
Além das diabruras do filho adolescente com nome bíblico, todas as suas conversas versavam sobre o verbo comer, usado sempre como substantivo. E se gostava de conversar a Aparecida! – assunto de boca era tudo na vida.
Repetia incessantemente que era necessário comer para poder trabalhar bem, para descansar bem, para pensar bem, acompanhando as frases com bolachas que devorava a cada pausa que encontrava. E continuando de vezada a maçada, descrevia ao ínfimo pormenor o jantar do dia anterior: como a cebola tinha descascado para o refogado, o frango desfiado ou na maionese havia pecado. Sim, porque a Aparecida queria emagrecer mas não conseguia e rejubilava secretamente quando reparava nalguma das colegas a engordar, elogiando-as por estarem com “um ar mais saudável”.
Como almoçava sempre no local de trabalho, na pequena sala equipada de micro-ondas, aborrecia toda a gente com o tema costumeiro: as saudades que tinha dos petiscos da sua ilha que às vezes os familiares lhe enviavam; ai, que boa que estava a comidinha!, e como era uma dádiva de Deus. A Maria da Aparecida era testemunha de Jeová por isso rejeitava a Santíssima Trindade e nem lhe falassem em santos. Caso contrário, seria um santo do Comer o da sua devoção e até lhe dedicaria um altar pagão. E se acaso gostasse de ler algo mais além dos seus folhetos evangélicos para a digestão, o título Comer, orar, amar era decerto da sua predilecção.
Pela tarde a Aparecida aparecia à hora do lanche para cobiçar o que estavam comendo as colegas, pedia “dentadinhas” sem qualquer vergonha, e fazia-se convidada para as acompanhar ao café onde apontava com gula as vitrinas para que lhe pagassem um bolinho.
E ao fim do dia, à saída do trabalho, encaminhava-se directamente ao supermercado, não sem antes mencionar o que iria comprar para o jantar, toda bem-disposta.

- Cada qual come do que gosta


P.S. – Post livre de preconceitos de decisão, e quiçá adicionando outro provérbio que muito me “deliciou”:
- Barriga cheia toda a noite rabeia, barriga vazia não dá alegria

Sem comentários: