Provérbios Provados noutras casas:

domingo, 18 de julho de 2010

Provérbio bocal e boçal

Quando pela primeira vez estabeleci contacto com Madalena ela estava integrada num pacote com cerca de vinte caras novas, e como tal não me apercebi imediatamente que era uma personagem digna de figurar num romance. Mas certa de que com ela tenho de conviver diariamente, estacionei facilmente nessa conclusão ao cabo de mais ou menos uma semana, posição em que permaneço e donde me parece difícil que me arrede; resta perceber se o mencionado romance satírico, se trágico, se talvez e apenas só cómico e digno até de algum dó.
Madalena é totalmente destituída de modos e cordialidade, vira a cara para não dar os bons-dias, é rude para quem com ela trabalha, mais brusca ainda no atendimento ao público. Colecciona reclamações no livro que lhes é destinado sem aparente remorso. Madalena come de boca aberta, mesmo quando fala, e nunca a fecha em nenhuma ocasião, é capaz de passar horas a arengar: se enfrenta o computador implica com o rato e trata o teclado à cacetada. Se tem que solicitar algo desconhece a expressão “se faz favor” e não a remata com um “obrigada”. Aliás, Madalena não fala, grunhe; não pede, cospe.
Nem toda a gente tem a mesma opinião de Madalena, há que conhecê-la, há que compreendê-la, dizem-me. Vejo-as aos dois beijinhos logo pela manhã e cheira-me a um afecto conquistado à custa de muitos anos de convívio forçado. Talvez lá chegue um dia, toda a gente com a sua atrabile, os seus dias mais biliosos, há que conhecer-me também, mesmo a Madalena que afirma que nunca mudará por ninguém.
Para já, Madalena detesta-me com a sua forma de repulsão muito visceral, só me dirige a palavra quando me apanha em falta para me rezingar algo como “a menina quando não sabe, pergunta”. Como se eu lhe fosse perguntar alguma coisa, tenho medo que me acerte num olho…

- Pela boca morre o peixe

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