Provérbios Provados noutras casas:

sábado, 6 de setembro de 2008

Provérbio nocturno

O Alberto era professor de português mas amava secretamente os requintes de tudo o que era francês. Além da nouvelle cuisine e das lutas políticas, tinha um fétiche voraz por lingerie. O apetite era tal que inventava idas à casa de banho em casa de amigas e familiares para uma pesquisa febril ao cesto da roupa suja. Marília, uma das cunhadas, era visita frequente das suas noites de vigília, trajando certas cuecas vermelhas com a bóina preta por cima de uma peruca de caracóis louros. Apareciam-lhe imagens de várias mulheres do quotidiano: a D. Lurdes, quarentona de quarentena na secretaria da escola, e também a empregada de rabo de cavalo do café do Silva, e outras mais fugazes como a morena no comboio, que lhe alimentavam sonhos de ménage. Habituou-se a não usar pijama, até no Inverno, pois ardia de desejo e despertava encharcado. De manhã, exibia olheiras profundas das insónias povoadas de rendas e meias de liga. A primeira aula era um suplício, Alberto confundia o sujeito com o predicado e os complementos eram todos indirectos. Os alunos bichanavam, tentando adivinhar o que levaria este professor de ar desmazelado a passar as noites em claro...

- Noites alegres, manhãs tristes

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