Provérbios Provados noutras casas:

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Provérbio circense

Depois do boicote descarado levado a cabo na Feira de Santo António da Charneca, o Zé dos Frangos resolveu mandar às urtigas o Rei das Farturas e a Lena do Churro e decidiu mudar de profissão. Repescou à linha na memória umbilical o seu mais antigo sonho de criança e, pondo um sorriso de orelha a orelha que não mais lhe abandonou o maxilar, comprou umas meias de riscas largas roxas e pretas e dirigiu-se ao Chapitô. Aí chegado pediu para fazer um estágio de palhaço, já que não sabia ler em estrangeiro e as palavras workshop e atelier não lhe diziam nada. Ser palhaço, eis o seu sonho de criança, um pouco antes de querer ser deputado em São Bento, que até são sonhos que dormem de mão dadas... No Chapitô, o agora Zé Palhaço, sentia-se feliz; começou por ensinar na cozinha uma nova receita de frango enquanto aprendia malabarismo com laranjas, primeiro três, depois duas na mesma mão, até conseguir com quatro e até com cinco. Após as bolas, as massas de fogo e os bonecos feitos de balões, quis testar o equilíbrio em cima de umas andas e chegou mesmo a tentar uma perninha no trapézio. Foi então que outro palhaço o convidou para o primeiro espectáculo a sério, embora teimasse estranhamente em chamar-lhe acção de rua. O Zé pegou nas andas e num chapéu amarelo e juntou-se entusiasmado à centena de jovens que na Baixa erguiam cartazes e gritavam e cantavam e dançavam. Sentiu-se de novo criança, e pensava no bom que era não ter escolhido enveredar pela política, até ao momento em que descobriu, do cimo das suas andas, um palhaço de São Bento encabeçando o teatro. Uma lágrima correu-lhe pela face pintada quando um transeunte lá em baixo lhe espetou um dedo e a frase:

- Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és



P.S. – Post livre de preconceitos políticos, e quiçá subornando o porteiro para me deixar sentar no círculo esquerdo da assembleia a assistir ao espectáculo.

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